Cultura e Cidades é a última mesa de Seminário
18.09.2015
Guilherme Varella mediará debate entre arquiteta Raquel Rolnik e advogado Edésio Fernandes (Foto: Ascom/MinC) |
A cultura como elemento estratégico para o planejamento urbano e enfrentamento dos grandes problemas das cidades como as questões de mobilidade, segurança pública, educação e hipercentros. Este será um dos temas debatidos durante a mesa "Cultura e Cidades", que ocorrerá na quarta-feira, dia 23 de setembro, a partir das 17h.
A mesa será mediada pelo secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, Guilherme Varella e contará com a participação da arquiteta Raquel Rolnik e do advogado Edésio Fernandes. O debate encerra o último dia de debates do Seminário Internacional Cultura e Desenvolvimento, que ocorre de 21 a 23 de setembro, no Cine Odeon, Cinelândia, Rio de Janeiro.
O objetivo do evento é celebrar os 70 anos da Unesco e 10 anos da Convenção Sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. A abertura contara com a presença do ministro da Cultura, Juca Ferreira, e da diretora-geral da Unesco, Irina Bokova.
O seminário promoverá oito mesas de debate sobre cultura e temas relevantes da agenda global e será transmitido, ao vivo, pelo site do Ministério da Cultura.
Confira a entrevista com o secretário de Políticas Culturais do MinC, Guilherme Varella
1) Qual a importância do Seminário Internacional Cultura e Desenvolvimento?
É fundamental discutir a relação entre cultura e desenvolvimento e como se pode, cada vez mais, fortalecer esse elo. Com essa perspectiva, acredito que um dos principais eixos do evento será debater de que forma podemos impulsionar o desenvolvimento socioeconômico das comunidades por meio da cultura, sempre garantindo o espaço das diversas manifestações, promovendo a diversidade e defendendo as identidades.
Hoje, a nossa Secretaria de Políticas Culturais (SPC) tem como uma de suas mais relevantes pautas a economia da cultura, justamente um dos assuntos que serão discutidos no Seminário. Trata-se de uma diversificada cadeia produtiva que envolve setores como artesanato, audiovisual, games e softwares, arquitetura, artes cênicas, música e design. O Sistema MinC desenvolve mais de 100 projetos, programas e ações para este segmento, com enorme potencial de geração de emprego e renda para nossa população. Mas o desenvolvimento, obviamente, não passa apenas por uma questão financeira e sim por uma ampla inclusão social. E, claro, ao promovermos a economia da cultura como fator de crescimento do país, também divulgamos nossa riqueza de expressões no âmbito nacional e até mesmo internacional.
2) O senhor vai mediar uma mesa sobre Cultura e Cidades durante o evento. Na sua opinião, como a Cultura pode ser um elemento estratégico para planejamento urbano e enfrentamento de problemas como violência?
Este é o momento de avançarmos na construção do tema Cultura e Cidades. Trata-se de assunto essencial, que envolve várias temáticas e áreas do Ministério, com especial relevância para a economia criativa e que ganha ainda mais importância em virtude do debate político que se voltará às cidades no ano que vem, período de eleições municipais. A agenda das cidades nunca esteve tão em voga e com caráter eminentemente cultural, pois se refere à construção de novos paradigmas de convivência urbana e de desenvolvimento. Mais do que isso, é uma agenda essencialmente cultural por problematizar valores norteadores da urbanidade contemporânea, assentados em questões como pertencimento de identidade nos territórios, relacionamentos humanos, comportamentos sociais, individualidades e interações, e perspectivas mais humanas e sustentáveis de vida.
A cultura é fundamental na experiência das cidades: significados, hábitos, identidades. As cidades são a maior invenção do homem. Fazer e habitar esses espaços são os nossos maiores fatos culturais. Para que possamos um dia ambicionar novas perspectivas desses lugares, precisamos incorporar a cultura como eixo de desenvolvimento urbano.
É nítido que os movimentos urbanos de direito à cidade têm nas expressões culturais a sua principal forma de resistência, emprestando novos significados a urbe. Também é imprescindível considerar que, em territórios com espaços e movimentos culturais, prevalece a noção de identidade, se fortalecem os vínculos de pertencimento comunitários e, com isso, se reduz a violência. Por isto, recentemente o Ministério da Cultura incorporou-se ao Programa Nacional de Redução de Homicídios, coordenado pelo Ministério da Justiça, com ações voltadas à ocupação e otimização dos equipamentos públicos urbanos.
3) Como incentivar ocupação de espaços públicos para atividades culturais nas cidades brasileiras? Quais são os principais desafios?
Nessa agenda, precisamos pensar os papéis do Estado na relação entre cultura e cidades e, nele, as diferentes competências federativas, que nos obrigarão a atuar, como MinC, de maneiras diferentes de acordo com os temas. O Ministério da Cultura pode ter um papel indutor, de ativação da dinâmica cultural nos planejamentos urbanos, que terão papel decisivo na preservação dos equipamentos culturais públicos e privados, na lógica de ocupação (vivência) cultural das cidades e seus espaços públicos, e em uma regulação mais efetiva contra a especulação imobiliária. Isso pode ser feito por meio de seminários e articulações políticas que permitam sensibilizar os agentes que atuam diretamente com urbanismo.
Podemos agir como fomentadores de ações inovadoras nas interfaces urbanas com a cultura. Também devemos pensar como tais iniciativas se incorporam nas dinâmicas de cada cidade, que são peculiares e diferentes entre si. A perspectiva, nessa linha, é mais aplicada, menos teórica.
Os movimentos de ocupação, como Mercado Sul, em Taguatinga, no Distrito Federal, e o Ocupa Estelita, em Recife, são essencialmente mobilizações pela reorganização do espaço urbano. O adensamento das cidades e da mobilidade urbana são temas inerentes à cultura, como eixo que permite a convivência diversa, saudável e democrática. Neste sentido, os espaços que habitamos são o campo da nossa experiência cotidiana. Qualificá-lo não é só uma questão de infraestrutura ou funcionalidade, mas um tema cultural urgente.
A necessidade do encontro, do transitar com liberdade e do produzir sentidos emancipatórios para a cidade por meio do convívio é fundamental às pessoas. A exclusão socioespacial é, portanto, sintoma e causa da fragmentação sócio-cultural pela qual o cidadão percebe e vive a cidade.
O MinC desenvolve, desde 2012, a ação #RedeLabs, que está relacionada à Meta 43 do Plano Nacional de Cultura (PNC) -- 100% das Unidades da Federação (UFs) com um núcleo de produção digital audiovisual e um núcleo de arte, tecnologia e inovação. A iniciativa tem por objetivo integrar os diversos projetos que envolvem espaços de inovação, experimentação e formação no âmbito das políticas públicas de cultura, aqui chamados 'laboratórios'. Pontos de Cultura, Núcleos de Produção Digital (NPDs), Laboratórios de Arte e Cultura Digital, os LabCEUs, assim como as Incubadoras Brasil Criativo, fazem parte desta articulação em rede.
O conceito de inovação cidadã diz respeito ao maior envolvimento do cidadão em ações que modifiquem a realidade e ajudem a se alcançar maior inclusão social. As tecnologias digitais desempenham um papel importante para disseminar esses projetos e facilitam a participação de coletivos por intermédio de práticas colaborativas, trabalhos em rede e transferência de conhecimento. Os laboratórios cidadãos, parte essencial do modelo, funcionam como espaços de apoio a pessoas com diferentes graus de informação que se reúnem para desenvolver projetos em conjunto.
Secretaria de Políticas Culturais
Ministério da Cultura
Publicado em:http://www.cultura.gov.br/
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